Rogo a Vossas Excelências compreenderem a singularidade desta cerimônia no que a mim me toca.
Nesta altura da vida, estou em um quarto ciclo de vida, e último: fui
professor secundário e preparava-me para a cátedra superior, nos remotos
anos iniciais da década de 40, quando o destino, caprichoso, levou-me
ao magistério no exterior, já em função desta Casa; nela entrei, ainda
no regime dos concursos diretos de provas, em 1945, nela ficando, devoto
de minhas obrigações, até que em 1964 dela me afastaram, sob suspeita
de alimentar eu um ideal socialista que me nutre desde a juventude e a
que morrerei fiel; isso encerrou o meu segundo ciclo de vida; o terceiro
me fez homem do livro, fautor de dicionários, de enciclopédias, de
ensaios, de traduções, de jornalismos, de críticas, ao sabor das
circunstâncias e vicissitudes; e agora,
adentro da septuagenariedade,
dedico-me diuturnamente - com a quase risível vibração de um esperançoso
adolescente - ao azar da palavra, da palavra como ente fundador do
Homem, que no nosso universo cultural é a língua que nos é vernácula.
Esta, gravemente desconsiderada do ponto de vista lexicográfico, dentre
as grandes línguas de cultura do mundo contemporâneo, a sexta ou sétima,
em meio a talvez mais de onze mil línguas vivas, não merece o abandono
em que vem sendo posta. E a minha luta final vem sendo colaborar na
derrota desse abandono - que os tropeços de nossa conjuntura econômica
talvez venham a impedir de se levar a cabo na brevidade desejável. Sou
não mais que isso.
Antônio Houaiss. Discurso proferido como paraninfo no Instituto Rio Branco, 25/5/1990 (com adaptações).
Com referência aos recursos retóricos e semânticos do texto, julgue o item subseqüente.
O emprego da preposição "da" em "adentro da septuagenariedade" é uma exigência da transitividade do verbo
adentrar usado na primeira pessoa do singular.