Faz-se aqui a análise de uma barragem de 90 milhões de m
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para irrigação. Só poderá ser usado 1/3 dessa água, pois 1/3 vai
evaporar, dependendo do espelho da barragem, e 1/3 deve ser preservado
como reserva estratégica para anos piores, que podem ser consecutivos.
Portanto, elabora-se um projeto de irrigação para 30 milhões de m
3.
No ano seguinte, pode acontecer de chover em vários lugares,
menos na área da bacia. Ontem, por exemplo, choveu em Petrolina (70 mm),
em Curaçá (102 mm) e nada no final do rio Salitre. Isso acontece muito
no Nordeste. Portanto, se não houver chovido na bacia, significa que 1/3
da reserva de água evaporou, 1/3 foi usado na irrigação e 1/3 restou. O
que se faz agora é usar na irrigação 1/3 do 1/3 restante. Se houver
outro ano de má qualidade de chuva, não haverá possibilidade de
irrigação. Nesse caso, plantações perenes, como a uva, cujo hectare
custa hoje entre 30 mil e 35 mil reais, perdem-se completamente, e o
jeito é mudar de ramo. Portanto, há a necessidade de garantia, ou então,
que se faça irrigação de ciclo curto, de flores, melancia, melão etc.,
pois, se faltar água, não haverá mais irrigação.
A
Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF) tem
barragens de irrigação. Quando terminam as chuvas, calcula-se a
quantidade de água que terão aquelas pessoas. Às vezes, essa quantidade
só dá para os agricultores irrigarem a metade de sua plantação. Esses
cálculos são necessários. As barragens da CODEVASF estão situadas na
Bahia e em Minas Gerais, onde há perímetros irrigados com base em
barragens que, à medida que se retira a água, são recarregadas por algum
riacho perene. Já nas regiões de clima semi-árido, terminadas as
chuvas, não há mais fonte de água.
Tais dificuldades
em se ter atividades econômicas sustentáveis fazem que haja essa
proposta, que precisa ser bem estudada, de transposição de águas,
utilizando-se as grandes barragens existentes e construindo-se outras.
Dentro do projeto de transposição, prevê-se levar 60 m
3/s de água do rio Tocantins, através do rio dos Sonos, até o leito do rio Grande, que tem uma vazão de 40 a 45 m
3/s,
para alimentar o rio São Francisco. E prevê-se levar água do São
Francisco até o Ceará e o Rio Grande do Norte. O projeto todo está
orçado em torno de três bilhões de reais.
Airson Bezerra Lócio, presidente da CODEVASF. Audiência pública, na Câmara dos Deputados, com autoridades do grupo de trabalho sobre a transposição do rio São Francisco, 16/2/2000 (com adaptações).
Com relação à transposição das águas do rio São Francisco, referida no texto, e a seus impactos, julgue o item subseqüente.
O plantio de uva no semi-árido é citado, no texto, como exemplo de potencialidade agrícola que justifica a transposição de águas. Trata-se, no entanto, de exemplo inadequado, dado que a uva é produto específico de clima subtropical.